Mas qual é, de fato, a função do jornalista?
Ainda lembro o motivo que me fez decidir ser jornalista. Ao contrário de muitos colegas, não foi só porque eu gostava de escrever, gostava de história e de literatura. Decidi ser jornalista quando percebi - e eu ainda acho que é assim - que o jornalismo podia, sim, ser uma forma de transformar as coisas, de melhorar o mundo. Parece ser um ponto de vista utópico, mas eu acredito no lema informar para transformar.
Não posso negar que me decepcionei muito ao entrar para a faculdade. E isso se deve muito ao convívio com grande parte de meus colegas da Comunicação. Fico impressionada com o desleixo e com a falta de comprometimento. Não posso afirmar que isso ocorre em todos os cursos da Universidade, mas posso dizer, com toda a convicção, que a Faculdade de Comunicação Social nunca esteve tão relapsa como agora. Parece ser um círculo vicioso: o aluno já é naturalmente descompromissado; o professor não cobra dele as devidas responsabilidades; o aluno vai levando a faculdade com a barriga; o professor "engole'' qualquer baboseira que ele escreveu naquele trabalhinho solicitado. Me indigna esse pacto de mediocridade. Nós fingimos que aprendemos; eles fingem que ensinam e fica tudo bem. E isso parece ser reforçado a cada semestre, tornando-se cada vez mais natural. É realmente lamentável ler coisas do tipo "estava jogando sinuca no DaCom e a professora veio trazer minha mochila, porque a aula já tinha acabado". E essa "praga" acaba afetando todo mundo, porque é o tipo de coisa que vai se impregnando, se espalhando e, quando vemos, faz parte do ambiente, é característica do lugar, do curso, dos professores e dos alunos. Não me agrada nem um pouco quando me perguntam onde eu estudo, porque à minha resposta, sempre é atribuída uma risadinha, um olhar, algum gesto que designa certo desprezo/deboche.
Talvez esse quadro esteja relacionado com a entrada de estudantes cada vez mais jovens - cerca de 17, 18 anos - no curso superior. E, como essa geração é marcada pelas novas tecnologias, redes de mídias sociais, ferramentas da web que permitem acesso a um fluxo muito intenso de informações diversas, é possível, também, que o problema esteja no excesso de informações que recebemos, que acaba dando a falsa impressão de que sabemos muito de tudo. O que é mentira, porque estamos cada vez mais nos informando superficialmente, aprendendo superficialmente, conhecendo superficialmente (isso é assunto para outro post) . É tudo tão rápido que falta tempo para o aprofundamento, para a reflexão, para o pensamento sobre o que lemos, ouvimos e, até mesmo, sobre o que escrevemos.
Quantos livros INTEIROS você leu no último ano? Quantos jornais INTEIROS você lê diariamente? Será que a figura do professor em sala de aula, falando, expondo o assunto, exemplificando, é realmente desnecessária? Será que não temos nada a aprender em nenhuma das aulas da faculdade?
Fica o questionamento. Porém, o que mais me preocupa, é o fato de que esse pensamento parece ser defendido por boa parte daqueles que são os futuros formadores de opinião. Só não sei com que ''bagagem'' intelectual farão isso. Eis que se perde a essência do jornalismo: o poder de transmitir a informação corretamente, o compromisso com a verdade e, sobretudo, o compromisso com a sociedade, principal vítima nisso tudo.
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