domingo, 25 de janeiro de 2015

crème brûlée

acho que nós nos encontramos no meio do processo. eu tô 90% carregando, aguenta aí. são míseros 10% que me separam de estar realmente pronta. eu sei, eu sei, eu tinha me prometido que não cairia nessa tão cedo de novo, mas a verdade é que eu quero. quero de um jeito não querendo, que vezenquando surge faz surgir na minha cabeça um "calma aí, devagar, não se joga com tudo porque a queda é alta. tu sabe muito bem!". e na mistura desse querer e não querer quem ganha é tu, porque quando eu tô contigo eu sinto que a vida pode ser realmente boa e que o carinho pode estar nas coisas mais simples que existem na vida. pode estar num "comprei lenços demaquilantes pra ti" ou no "goshhhto tanto de te verrr, leAOzinho", cantado com aquele sotaque à la Beirut que me derrete na primeira frase.

eu ainda tô me acostumando com isso tudo porque, tu sabe, não é tão simples e natural pra mim. eu ainda tenho contas a acertar comigo mesma. não vou desaparecer, eu prometo. essas contas estão sendo pagas agora, a cada dia, a cada novo desafio que eu me coloco e que consigo cumprir todos os dias. são coisas que eu faço por mim, porque quero romper todos os laços que eu ainda posso ter com aquela pessoa que eu era. mas de alguma maneira eu também faço isso por ti agora, porque eu quero muito ser pra ti ao menos metade da pessoa que tu é comigo. 

"ça va pas marcher", me disse um amigo quando eu falei que não me envolveria seriamente com ninguém pelos próximos anos. "somos humanos, é a vida, não podemos evitar que essas coisas aconteçam, que sentimentos apareçam". e ele tava certo. não podemos evitar que sentimentos apareçam. e nem devemos. eu ainda tenho a minha crosta brûlée, como tu disse hoje, mas aos poucos tu vai quebrando essa "casca" que me cobre e cada dia tu chega mais perto do que hoje eu escondo a sete chaves. eu me prometi de nunca mais deixar ninguém chegar tão perto "dele", porque ele é frágil demais. porque ele foi muito ferido e ainda está sob observação. e, principalmente, porque eu não quero nunca mais sentir aquela dor que não tem remédio no mundo que dê conta. a dor de amor, que faz o peito parecer um buraco aberto onde bate vento e tudo gela, e dói, e não há como cobrir algo que está dilacerado. tem que deixar criar casquinhas até cicatrizar. minhas casquinhas estão muito duras, e eu não quero arrancá-las. eu sinto medo. desculpa.

e talvez daqui uns meses tu já consiga ler isso e a gente ria juntos desse texto. até lá, a gente continua vivendo as noites quentes regadas a vinho e as manhãs doces e preguiçosas com direito a café na xícara do Star Wars e tiramisu feito por ti enquanto eu ainda rolo na cama fazendo manha pra levantar só pra que tu venha me acordar com aquele beijo e aquele abraço que fazem eu me sentir protegida e acreditar que o mais importante não é ser perfeita como eu sempre me preocupei em ser, mas entender que nós dois podemos ser perfeitos um para outro justamente por conta das nossas imperfeições. e eu adoro o teu cabelo "n'importe quoi", preciso te dizer isso. 

desculpa se por fora eu ainda sou dura, tudo ainda é novo. eu sinto um frio na barriga quando percebo que talvez tu esteja ultrapassando a minha barreira imaginária de segurança. mas eu não quero te impedir, porque, sinceramente, eu nem consigo mais. 

sábado, 2 de agosto de 2014

Sobre amadurecer

Desde pequena, sempre ouvi as pessoas se surpreenderem com a minha (suposta) maturidade. Talvez meu jeito tímido e sério, combinado com meu senso de responsabilidade um tanto precoce levaram minha família a me considerar alguém "maduro para a idade".
Sempre tive objetivos e corri atrás deles, me esforçando muito para alcançá-los. Também sempre gostei de planejar minha vida, pensando em cada etapa com cuidado. Nunca me sentiria à vontade com a ideia do "amanhã a gente resolve". Tinha horror de deixar as coisas para a última hora e que dessem errado, saindo daquilo que eu tinha imaginado.

Hoje eu vejo que isso não tem muito a ver com maturidade. Tem muito mais a ver com insegurança, com medo, dois sentimentos que sempre estiveram bem próximos de mim, disfarçados de maturidade. Insegurança quanto ao que eu sou capaz; medo de me confrontar com o erro, com o fracasso, com um novo caminho a ser descoberto e que em nada se parece com aquele que eu planejei tão cuidadosamente pra ser seguido. E por muito tempo eu agi assim, fugindo de tudo o que pudesse me expor a esse desconforto de ter que lidar com o desconhecido e traçar novas estratégias para retomar o caminho ~certo~para chegar aonde eu queria.

Até que chega um dia em que alguém dá um tapa no teu tabuleiro do War e todos os exércitos se misturam. E tu não sabe como reorganizar. E aí tu tenta lembrar qual era o lugar de cada uma, mas é difícil, e tu tem que continuar o jogo, mas tu tem medo de colocar as peças num lugar errado e te prejudicar lá na frente. 

Desculpem a analogia boba, mas é mais ou menos isso que acontece com pessoas que, assim como eu, sempre quiserem ter tudo sob controle. Vai chegar um momento "x" em que tudo sai da linha, em que tua vida vira de cabeça pra baixo, em que tu te depara diante de tantos outros caminhos tão diferentes daquele que tu imaginou inicialmente. E, por não ter escolha, tu vai ter que pegar esse novo caminho e aprender a se localizar dentro dele, onde tudo é novo e fora da tua zona de conforto. E, acredito, em 99,9% dos casos isso vai te fazer uma pessoa melhor. Porque vai te obrigar a enfrentar teus medos, tuas inseguranças, teus fantasmas que sempre estiveram ali, te segurando, te impedindo de tomar decisões que se afastassem daquilo tudo que tu já conhece. E tu vai aprender a ver a beleza do novo, do diferente, da incerteza. Sim, porque ela também é bela. É bom ser surpreendido, deixar as coisas acontecerem sem já ficar mirando no amanhã. Vai te ensinar a aproveitar o hoje, mais do que tudo. Vai te fazer olhar pro passado com outros olhos e a esquecer um pouco do futuro porque, sejamos francos, ele sequer existe. O importante é o que nós temos, o que nós somos, o que nós fazemos agora. 

Então, quando um furacão passar na tua vida, deixando um rastro de incertezas e dúvidas, olha pra toda essa bagunça e aproveita para mudar o cenário da tua vida. Testa, experimenta, olha pra bagunça de novo, muda outra vez as coisas de lugar e dá um novo sentido ao que talvez já estivesse quase sem ele. Às vezes os furacões nos ajudam a construir um novo começo.


domingo, 18 de maio de 2014

Reviravolta



Enfim, chegou o dia. Parece que foi uma eternidade até aqui. Foram o quê? Quase cinco anos? Uma vida. Pequena, mas uma vida. Uma vida "vivante", com todas as etapas. Nascer, viver, morrer. OK, tratar assim é meio dramático demais. Prefiro dizer que vivemos todas as estações.

Tudo começou numa tarde de inverno. Era frio e chovia. Engraçado pensar em como era tudo cinzento até este dia, mas foi só a gente se unir que tudo passou a ter mais cor. Acho que foi a paixão (e o vinho tinto, que eu aprendi a beber contigo!), que foi enchendo de cores o caminho até a primavera.

Ainda lembro de quando tu caminhava do Centro até a Ramiro só pra almoçarmos juntos. Rapidinho, só por algumas poucas horas mas que pra gente era tudo. Como era bom poder aproveitar a tua companhia naqueles intervalos. Como era bom sentir tudo aquilo que eu senti. Nunca uma primavera foi tão longa e florida. E nunca aqueles caminhos que a gente fazia pela Redenção depois do almoço viram tanto amor nos olhos de duas pessoas tão jovens. Amor de uma vida inteira.

O romance da primavera esquentou nosso coração e iniciou nosso verão. Eu sempre detestei o calor, mas até ele parecia agradável do teu lado. Foi um verão diferente, cheio de tempestades e trovões que nos assustaram, lembra? Mas a gente decidiu enfrentar junto. Sem medo. Nosso único medo era não ter mais um ao outro pra dividir o guarda-chuva e seguir o caminho. E foi isso que nós fizemos enquanto durou nosso verão. Quente, abafado, mas aconchegante. O problema é que o sol era tão forte que às vezes me queimava um pouco. E ardia, e eu sentia dor, mas eu não tinha coragem de fugir dele porque ele brilhava tanto. Ele iluminava tudo na volta. Se as estações são certas, o tempo é instável. Então, a gente tinha que estar preparado pra quando o outono se aproximasse, com toda a sua indiferença e mania de deixar tudo sem cor.

E ele veio se aproximando, devagarinho. E num belo dia de sol, a força do outono foi mais forte e mandou o sol ir embora. Eu senti muito, porque mesmo que estivesse difícil aguentar o sol, eu ainda queria ser forte. Acho que tu também quis, mas a gente não sabe a força que tem até ter que colocá-la à prova. Eu não te culpo por tu ter aceitado que o outono invadisse com tudo. Eu entendo tuas razões, não era uma situação fácil. E aquele vento entrando, e bagunçando tudo. Bagunçando nossa vida. Bagunçou nosso mundo, aquele que nós construímos juntos e que já estávamos começando a incrementá-lo, lembra? No dia 2 de setembro tu tinha me proposto um novo projeto: tornar nosso mundo ainda mais nosso. Mas o vento não deu trégua e soprou tudo com força. Eu voei pra um lado e tu pra outro.

E a gente voou mesmo. O choque da queda quando eu caí no chão doeu muito, mas hoje eu me sinto melhor. Espero que tu também tenha conseguido cuidar dos teus machucados assim como eu cuidei dos meus, porque arde muito cada vez que a gente mexe neles. É estranho pensar que tudo isso aconteceu há tão pouco tempo, mas parece que faz tantos anos. Eu quase não lembro mais dos traços do teu rosto. Mas ainda sinto teu perfume por aí. É como se nós fôssemos duas pessoas muito distantes, amigos do jardim de infância que se reencontram depois de muitos anos e ficam sem jeito por não saberem mais nada um da vida do outro.

Apesar da dor, eu te agradeço pelo que tu fez por nós. Acho que o sol do verão me cegou um pouco. Eu não conseguia mais enxergar nada. Eu achava que eu não podia dar um passo mais largo à frente porque eu ia cair com tudo. Mas eu percebi que eu posso dar muitos passos largos. E que cada um deles me mostra que eu sou muito mais capaz do que eu pensei que eu fosse. E eu devo isso tudo a ti. Obrigada por me fazer conhecer a mim mesma. Obrigada pelas quatros estações mais intensas que eu já vivi e, principalmente, por não ter tentado reorganizar tudo aquilo que o vento do outono quebrou quando invadiu nosso mundo. fazer isso só ia fazer a gente lembrar de tudo o que ele destruiu, e que nunca mais voltaria a ser igual.

Pra mim, valeu cada segundo, desde o primeiro momento que a gente se encontrou. Fico feliz de escrever isso com o coração leve de novo. Agora, dentro dele só os sentimentos mais puros e a vontade de ser ainda mais feliz.

sábado, 8 de dezembro de 2012

Desapego

Acho que são das nossas lembranças que eu mais tenho medo. A primeira ligação, a primeira mensagem, o primeiro almoço. O primeiro "eu te amo" e todas as promessas que essa frase traz. Os caminhos que fizemos juntos, os finais de semana no teu quarto. Aquela vez que meus pais chegaram de surpresa em casa quando estávamos só nós. O cheio do teu perfume em mim, o meu em ti. A primeira briga e todas as discussões. A dor de achar que tudo estava perdido. O conforto de termos um ao outro novamente e poder passar por tudo mais uma vez.

O ruim da separação depois de tanto tempo junto é perder a noção de quem somos nós exatamente. Quando se ama de verdade, você cria uma ligação tão intensa com o outro que se torna difícil reaprender a 'andar com as próprias pernas'. Não que a gente se torne dependente um do outro. Não é propriamente isso. Mas nós passamos anos criando um mundo nosso e, agora, temos que fazer tudo de novo, só que sozinhos. Cada um com o seu. Vai ser difícil saber o que eu posso levar do 'nosso' para o meu. Às vezes eu tenho medo de levar qualquer coisa. Talvez seja melhor tudo novo, sem coisas velhas. Mas eu não consigo me desapegar. Cedo ou tarde, a saudade vai bater e eu vou querer ter alguma coisa para recordar, mesmo que me doa. Parece masoquismo. E talvez até seja. Eu sempre vi certa beleza na dor, você sabe. Mas o fato é que eu simplesmente não vou conseguir me desfazer de tudo o que era nosso. Temos coisas muito valiosas, e não quero abandoná-las. Eu batalhei tanto por elas. Não seria justo deixá-las para trás.




sexta-feira, 16 de março de 2012

me enche o coração

 

   " Toco tu boca, con un dedo toco el borde de tu boca, voy dibujándola como si saliera de mi mano, como si por primera vez tu boca se entreabriera, y me basta cerrar los ojos para deshacerlo todo y recomenzar, hago nacer cada vez la boca que deseo, la boca que mi mano elige y te dibuja en la cara, una boca elegida entre todas, con soberana libertad elegida por mí para dibujarla con mi mano por tu cara, y que por un azar que no busco comprender coincide exactamente con tu boca que sonríe por debajo de la que mi mano te dibuja.

     Me miras, de cerca me miras, cada vez más de cerca y entonces jugamos al cíclope, nos miramos cada vez más de cerca y nuestros ojos se agrandan, se acercan entre sí, se superponen y los cíclopes se miran, respirando confundidos, las bocas se encuentran y luchan tibiamente, mordiéndose con los labios, apoyando apenas la lengua en los dientes, jugando en sus recintos donde un aire pesado va y viene con un perfume viejo y un silencio. Entonces mis manos buscan hundirse en tu pelo, acariciar lentamente la profundidad de tu pelo mientras nos besamos como si tuviéramos la boca llena de flores o de peces, de movimientos vivos, de fragancia oscura. Y si nos mordemos el dolor es dulce, y si nos ahogamos en un breve y terrible absorber simultáneo del aliento, esa instantánea muerte es bella. Y hay una sola saliva y un solo sabor a fruta madura, y yo te siento temblar contra mí como una luna en el agua."


(Rayuela, Capítulo 7 - Julio Cortázar)


incrível como nunca caso de ler esse capítulo.

sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

namore e ganhe um combo: amor, paixão e ódio, tudo num mesmo dia

para. espera um pouco. se tem uma coisa que eu nunca vou entender é essa tua mania de achar que não precisa melhorar em nada. todo mundo precisa. sempre. o tempo todo. não me trata assim, como se eu fosse uma neurótica em busca de um ideal que jamais vai ser atingido. eu tô tentando te mostrar que a gente precisa mudar. eu e tu. eu sei que eu erro, eu sei que eu falho. digo o que não devo, me faço ser levada a mal por ser impaciente demais. mas tu também age mal comigo de vez em quando e faz coisas que eu desaprovo. nem sempre a gente vai tá em sintonia. as coisas são desse jeito. o amor tem dessas coisas. num dia tá tudo lindo e perfeito. no outro, se instaura uma nuvem negra e não sai dali por uma semana. a gente briga, eu choro. tu não, eu sei, mas eu choro litros. borro o rímel, fico com o nariz vermelho. vou dormir com o coração do tamanho de uma ervilha e parece que ele vai me sufocar de tão comprimido até a gente se ver de novo e ficar tudo bem. até tu me abraçar forte de novo. até eu acariciar o teu rosto e te olhar no olho outra vez. e só quando a gente volta a se equilibrar, e só quando a gente volta a conversar sobre o mundo e as pessoas e as coisas erradas no mundo e nas pessoas é que a gente volta a ser a gente, daquele mesmo jeito de antes, daquela mesma forma de quando tudo isso começou. e é sempre dolorido nas brigas e é sempre lindo quando a gente fica bem. não adianta tentar evitar. é o círculo vicioso entre nós dois que nos carrega pro abismo e pro ceu, esses dois extremos que brincam com a gente, fazendo nossos corações virarem verdadeiros acrobatas das emoções para driblar tudo isso e estar sempre pronto pra outra.

segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

Ok.

"Você jamais estará disposto a ser assustadoramente feliz sem estar disposto a sofrer assustadoramente." (tirei daqui)