sábado, 8 de dezembro de 2012

Desapego

Acho que são das nossas lembranças que eu mais tenho medo. A primeira ligação, a primeira mensagem, o primeiro almoço. O primeiro "eu te amo" e todas as promessas que essa frase traz. Os caminhos que fizemos juntos, os finais de semana no teu quarto. Aquela vez que meus pais chegaram de surpresa em casa quando estávamos só nós. O cheio do teu perfume em mim, o meu em ti. A primeira briga e todas as discussões. A dor de achar que tudo estava perdido. O conforto de termos um ao outro novamente e poder passar por tudo mais uma vez.

O ruim da separação depois de tanto tempo junto é perder a noção de quem somos nós exatamente. Quando se ama de verdade, você cria uma ligação tão intensa com o outro que se torna difícil reaprender a 'andar com as próprias pernas'. Não que a gente se torne dependente um do outro. Não é propriamente isso. Mas nós passamos anos criando um mundo nosso e, agora, temos que fazer tudo de novo, só que sozinhos. Cada um com o seu. Vai ser difícil saber o que eu posso levar do 'nosso' para o meu. Às vezes eu tenho medo de levar qualquer coisa. Talvez seja melhor tudo novo, sem coisas velhas. Mas eu não consigo me desapegar. Cedo ou tarde, a saudade vai bater e eu vou querer ter alguma coisa para recordar, mesmo que me doa. Parece masoquismo. E talvez até seja. Eu sempre vi certa beleza na dor, você sabe. Mas o fato é que eu simplesmente não vou conseguir me desfazer de tudo o que era nosso. Temos coisas muito valiosas, e não quero abandoná-las. Eu batalhei tanto por elas. Não seria justo deixá-las para trás.




sexta-feira, 16 de março de 2012

me enche o coração

 

   " Toco tu boca, con un dedo toco el borde de tu boca, voy dibujándola como si saliera de mi mano, como si por primera vez tu boca se entreabriera, y me basta cerrar los ojos para deshacerlo todo y recomenzar, hago nacer cada vez la boca que deseo, la boca que mi mano elige y te dibuja en la cara, una boca elegida entre todas, con soberana libertad elegida por mí para dibujarla con mi mano por tu cara, y que por un azar que no busco comprender coincide exactamente con tu boca que sonríe por debajo de la que mi mano te dibuja.

     Me miras, de cerca me miras, cada vez más de cerca y entonces jugamos al cíclope, nos miramos cada vez más de cerca y nuestros ojos se agrandan, se acercan entre sí, se superponen y los cíclopes se miran, respirando confundidos, las bocas se encuentran y luchan tibiamente, mordiéndose con los labios, apoyando apenas la lengua en los dientes, jugando en sus recintos donde un aire pesado va y viene con un perfume viejo y un silencio. Entonces mis manos buscan hundirse en tu pelo, acariciar lentamente la profundidad de tu pelo mientras nos besamos como si tuviéramos la boca llena de flores o de peces, de movimientos vivos, de fragancia oscura. Y si nos mordemos el dolor es dulce, y si nos ahogamos en un breve y terrible absorber simultáneo del aliento, esa instantánea muerte es bella. Y hay una sola saliva y un solo sabor a fruta madura, y yo te siento temblar contra mí como una luna en el agua."


(Rayuela, Capítulo 7 - Julio Cortázar)


incrível como nunca caso de ler esse capítulo.

sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

namore e ganhe um combo: amor, paixão e ódio, tudo num mesmo dia

para. espera um pouco. se tem uma coisa que eu nunca vou entender é essa tua mania de achar que não precisa melhorar em nada. todo mundo precisa. sempre. o tempo todo. não me trata assim, como se eu fosse uma neurótica em busca de um ideal que jamais vai ser atingido. eu tô tentando te mostrar que a gente precisa mudar. eu e tu. eu sei que eu erro, eu sei que eu falho. digo o que não devo, me faço ser levada a mal por ser impaciente demais. mas tu também age mal comigo de vez em quando e faz coisas que eu desaprovo. nem sempre a gente vai tá em sintonia. as coisas são desse jeito. o amor tem dessas coisas. num dia tá tudo lindo e perfeito. no outro, se instaura uma nuvem negra e não sai dali por uma semana. a gente briga, eu choro. tu não, eu sei, mas eu choro litros. borro o rímel, fico com o nariz vermelho. vou dormir com o coração do tamanho de uma ervilha e parece que ele vai me sufocar de tão comprimido até a gente se ver de novo e ficar tudo bem. até tu me abraçar forte de novo. até eu acariciar o teu rosto e te olhar no olho outra vez. e só quando a gente volta a se equilibrar, e só quando a gente volta a conversar sobre o mundo e as pessoas e as coisas erradas no mundo e nas pessoas é que a gente volta a ser a gente, daquele mesmo jeito de antes, daquela mesma forma de quando tudo isso começou. e é sempre dolorido nas brigas e é sempre lindo quando a gente fica bem. não adianta tentar evitar. é o círculo vicioso entre nós dois que nos carrega pro abismo e pro ceu, esses dois extremos que brincam com a gente, fazendo nossos corações virarem verdadeiros acrobatas das emoções para driblar tudo isso e estar sempre pronto pra outra.