sábado, 2 de agosto de 2014

Sobre amadurecer

Desde pequena, sempre ouvi as pessoas se surpreenderem com a minha (suposta) maturidade. Talvez meu jeito tímido e sério, combinado com meu senso de responsabilidade um tanto precoce levaram minha família a me considerar alguém "maduro para a idade".
Sempre tive objetivos e corri atrás deles, me esforçando muito para alcançá-los. Também sempre gostei de planejar minha vida, pensando em cada etapa com cuidado. Nunca me sentiria à vontade com a ideia do "amanhã a gente resolve". Tinha horror de deixar as coisas para a última hora e que dessem errado, saindo daquilo que eu tinha imaginado.

Hoje eu vejo que isso não tem muito a ver com maturidade. Tem muito mais a ver com insegurança, com medo, dois sentimentos que sempre estiveram bem próximos de mim, disfarçados de maturidade. Insegurança quanto ao que eu sou capaz; medo de me confrontar com o erro, com o fracasso, com um novo caminho a ser descoberto e que em nada se parece com aquele que eu planejei tão cuidadosamente pra ser seguido. E por muito tempo eu agi assim, fugindo de tudo o que pudesse me expor a esse desconforto de ter que lidar com o desconhecido e traçar novas estratégias para retomar o caminho ~certo~para chegar aonde eu queria.

Até que chega um dia em que alguém dá um tapa no teu tabuleiro do War e todos os exércitos se misturam. E tu não sabe como reorganizar. E aí tu tenta lembrar qual era o lugar de cada uma, mas é difícil, e tu tem que continuar o jogo, mas tu tem medo de colocar as peças num lugar errado e te prejudicar lá na frente. 

Desculpem a analogia boba, mas é mais ou menos isso que acontece com pessoas que, assim como eu, sempre quiserem ter tudo sob controle. Vai chegar um momento "x" em que tudo sai da linha, em que tua vida vira de cabeça pra baixo, em que tu te depara diante de tantos outros caminhos tão diferentes daquele que tu imaginou inicialmente. E, por não ter escolha, tu vai ter que pegar esse novo caminho e aprender a se localizar dentro dele, onde tudo é novo e fora da tua zona de conforto. E, acredito, em 99,9% dos casos isso vai te fazer uma pessoa melhor. Porque vai te obrigar a enfrentar teus medos, tuas inseguranças, teus fantasmas que sempre estiveram ali, te segurando, te impedindo de tomar decisões que se afastassem daquilo tudo que tu já conhece. E tu vai aprender a ver a beleza do novo, do diferente, da incerteza. Sim, porque ela também é bela. É bom ser surpreendido, deixar as coisas acontecerem sem já ficar mirando no amanhã. Vai te ensinar a aproveitar o hoje, mais do que tudo. Vai te fazer olhar pro passado com outros olhos e a esquecer um pouco do futuro porque, sejamos francos, ele sequer existe. O importante é o que nós temos, o que nós somos, o que nós fazemos agora. 

Então, quando um furacão passar na tua vida, deixando um rastro de incertezas e dúvidas, olha pra toda essa bagunça e aproveita para mudar o cenário da tua vida. Testa, experimenta, olha pra bagunça de novo, muda outra vez as coisas de lugar e dá um novo sentido ao que talvez já estivesse quase sem ele. Às vezes os furacões nos ajudam a construir um novo começo.