sábado, 8 de dezembro de 2012

Desapego

Acho que são das nossas lembranças que eu mais tenho medo. A primeira ligação, a primeira mensagem, o primeiro almoço. O primeiro "eu te amo" e todas as promessas que essa frase traz. Os caminhos que fizemos juntos, os finais de semana no teu quarto. Aquela vez que meus pais chegaram de surpresa em casa quando estávamos só nós. O cheio do teu perfume em mim, o meu em ti. A primeira briga e todas as discussões. A dor de achar que tudo estava perdido. O conforto de termos um ao outro novamente e poder passar por tudo mais uma vez.

O ruim da separação depois de tanto tempo junto é perder a noção de quem somos nós exatamente. Quando se ama de verdade, você cria uma ligação tão intensa com o outro que se torna difícil reaprender a 'andar com as próprias pernas'. Não que a gente se torne dependente um do outro. Não é propriamente isso. Mas nós passamos anos criando um mundo nosso e, agora, temos que fazer tudo de novo, só que sozinhos. Cada um com o seu. Vai ser difícil saber o que eu posso levar do 'nosso' para o meu. Às vezes eu tenho medo de levar qualquer coisa. Talvez seja melhor tudo novo, sem coisas velhas. Mas eu não consigo me desapegar. Cedo ou tarde, a saudade vai bater e eu vou querer ter alguma coisa para recordar, mesmo que me doa. Parece masoquismo. E talvez até seja. Eu sempre vi certa beleza na dor, você sabe. Mas o fato é que eu simplesmente não vou conseguir me desfazer de tudo o que era nosso. Temos coisas muito valiosas, e não quero abandoná-las. Eu batalhei tanto por elas. Não seria justo deixá-las para trás.